A Gestão de Projectos pode contribui para diminuir o défice do sistema de saúde e, ainda, para melhorar a qualidade dos serviços prestados. Este dois em um é um resultado fantástico que interessa ao Estado, aos doentes e a todos os profissionais e empresas do sector. A única dificuldade a ultrapassar é que a GP implica uma mudança cultural.
As instituições de saúde têm uma organização com mais de cinquenta anos. São estruturas funcionais, hierárquicas e centralizadas. Cada função, ou Serviço, vivendo quase isolada das restantes e preocupada apenas com os seus próprios problemas.
Os doentes, porém, quando recorrem a uma instituição de saúde, não procuram apenas as actividades produzidas em cada serviço, como análises, electrocardiogramas ou radiografias. Ou doentes procuram resultados que requerem a integração de múltiplas actividades, ou processos, e que para serem obtidos com o mínimo de recursos possível e com a máxima qualidade, necessitam de ser integrados de forma profissional. O conjunto de técnicas e ferramentas que permitem efectuar essa integração constituem a chamada Gestão de Projectos.
A tentativa de produzir serviços de saúde em massa falhou em todos os países em que foi tentada. Como “cada caso é um caso”, a gestão de produção tradicional conduz a engarrafamentos e perdas de eficiência que oneram o produto final e que comprometem a qualidade.
As listas de espera para cirurgia, em Portugal, são o exemplo mais paradigmático desta situação. Com cerca de 250.000 doentes em espera, os blocos operatórios trabalham apenas a 50% da sua capacidade. Isto é um sinal muito importante de que algo está a correr mal.
A GP não é nova na saúde. É utilizada na construção hospitalar, no desenvolvimento de novos fármacos, nas tecnologias de informação e na investigação. A novidade consiste em estender a sua utilização à produção de serviços médicos. Neste momento, a nível global, estão a ser dados os primeiros passos neste sentido, especialmente nos EUA. Portugal só tem a beneficiar por debater esta nova perspectiva da gestão da saúde e lançar algumas experiências piloto.
Não devemos confundir esta GP clínica com a gestão, ou administração, das unidades de saúde. Esta última continuará a desempenhar as sua funções habituais, independentemente dos métodos de produção adoptados.
A GP promove organizações mais informais, mais leves, mais matriciais, com mais trabalho de equipa e mais comunicação entre todos. Neste ambiente, os técnicos de saúde sentem-se mais gratificados, produzem mais e melhor, e todos beneficiam. Especialmente os doentes que, por apresentarem problemas verdadeiramente únicos, têm direito a soluções à medida de cada um.
Joaquim Sá Couto